Navegar é preciso. Também pela rota das palavras. Elas nos levam onde nós nem sabemos que podemos chegar, mas podemos. Elas, as palavras, levam-nos pela mão, a descobrir não apenas o mundo conhecido, mas também o mundo que está continuamente à espera que o descubram: muitas vezes ao nosso lado, muitas vezes dentro de nós próprios. Aqui as palavras libertar-se-ão de quem as escreveu e "correrão mundo" à sua vontade.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
O soldadinho de chumbo
HUMILHADOS
OS HUMILHADOS
(Sobre uma pintura de Rogério Ribeiro)
Os humilhados
vêm do centro de uma dor insuportável.
Pedem que o pintor lhes dê um rosto
um perfil de estátua grega
ou apenas que transforme as rugas ancestrais
em bandeiras
ou lençóis
de uma noite de noivado.
Os humilhados
trazem nos dedos
memórias de todos os ofícios.
Sabem a que cheira o jornal acabado de imprimir.
Dobram ferro.
Apanham azeitonas.
Arrancam constelações
do seio quente da terra.
Os humilhados
vêm dos becos mais fundos dos bairros cinzentos.
Atravessam as ruas da pintura
ou melhor
da liberdade.
Pedem a bênção da cor.
Querem ser belos.
Deuses.
Querem ser um furacão.
Dizem: nós somos o furacão.
Tocamos o metal e fazemos uma flauta.
O nosso cântico ressoa na penumbra
mesmo quando a pátria nos esquece.
Dizem: nós somos os danados da terra.
Trazemos o corpo inclinado ao desenho breve
e comovido
das papoilas.
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Um comentário:
AhAhAh
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